quarta-feira, 30 de junho de 2010

Tavres - Um Esboço

História



Em tempos perdidos, que não se sabe quando, apenas que foi pouco antes do Segundo Crepúsculo dos Deuses, Tavres foi fundada. Conta a lenda que um dragão negro imenso voou sobre um reino cujo nome foi esquecido, e tão aterradora era sua presença que todos - camponês, sacerdote e rei - tomados pelo medo morreram com seus corações interrompidos. Anos se passaram com apenas o assovio dos ventos nas pedras e folhas sendo ouvido, nenhuma forma animal caminhou por lá. Até que um bravo cavaleiro de um reino vizinho, voltou de uma cruzada e ouvira falar do vorme que agora habitava o castelo onde outrora seu primo reinou. Armou-se de aço e coragem e partiu para enfrentar a besta. Ninguém sabe o que aconteceu lá dentro, mas o fato é que não houve batalha e ele se tornou o primeiro vassalo de Tavres.

O reino cresceu, fez alianças e se consolidou no seio da Procelária, mas a sua expansão se deu mesmo após o guerra de deuses e homens. Tanto as ordens religiosas quanto os exércitos do Vale das Lanças estavam enfraquecidos, e aproveitando deste momento delicado, aquela que desde então seria chamada de Feiticeira Negra, estendeu seu manto sombrio sobre a terra como uma nuvem gafanhotos numa plantação. A vidas que não se submeteram foram ceifadas e rapidamente os homens estavam subjugados e começavam a cultuar sua nova senhora, sem face alguma além do próprio medo.

Outros povos, cientes da malignitude daquela força, em franca ascensão, enviaram apoio, mas rapidamente tiveram que se ocupar de seus próprios problemas. Em Alestris, Morte, principal divindade élfica e responsável pela benção da eternidade no Reino de Prata, foi expulso pela Feiticeira e pelo Corvo. As cavernas em torno de Dol Khuzdul foram inundadas de draconóides, ainda que a teimosia anã os tenha mantido afastados por mais tempo do que qualquer outro povo, a malícia do inimigo fez tombar os portões por dentro, e a capital dos Barbanegra caiu. O último dos vizinhos de Tavres a tombar.

Tamanha foi a violência destes anos que um mar surgiu - Mar das Lágrimas -, onde a Feiticeira afundou os reinos que não se submeteriam à ela, e a Cordilheira do Ferro, escarpada e traiçoeira como nenhuma outra foi reduzida à meras colinas, exceção Dûmdras, a montanha sagrada que um dia o próprio Dûm Nietör se sentou.

Presente



Atualmente Tavres exerce poder em todo o Vale das Lanças, e divide a Procelária apenas com Adakedajó, reino aliado, à leste e um pequeno território ao sul, com a Nova Rosária, com quem batalhas já faíscam nas fronteiras próximas ao Mar das Lágrimas, apesar de poderio reduzido das forças de Rasputin.

A vida é miserável em cada canto do reino. Os corpos esgotam-se num trabalho sem fim, suficiente apenas para obter o mínimo necessário à sobrevivência, todo o resto é tomado pela coroa. Quem não consegue pagar as taxas, que são cobradas por pessoa, e não pela renda, é levado para campos de trabalho forçado, ou tem seus filhos tomados, dependendo do julgamento do responsável pela cobrança do imposto, que é feita duas vezes ao ano.

Um homem de 20 anos, que viveu toda sua vida em Tavres poderia facilmente ser tomado por um ancião, já que não é concedido descanso nem ao corpo nem ao espírito. Música e outras formas de arte foram há muito banidas do reino, e a grande maioria nem mais concebia algo semelhante, tamanha foi a violência com que ela foi arrancada de seus corações, séculos atrás, e qualquer prática rudimentar das mesmas é rapidamente calada. Após o surgimento dos Heróis da Canção isso tem mudado um pouco, e um formigamento no peito já é sentido por alguns, que o exprimem em discretos batuques na madeira ou ainda, para os mais ousados, assovios dissonantes, quando acreditam que ninguém está ouvindo.

As Forças de Tavres


Soldados de Infantria ('Besouros')



Estes homens encouraçados em aço compõe mais de três terços das forças de Tavres, e podem ser vistos com freqüência em quaisquer partes do reino. Sua armadura completa e escurecida lhe deu a alcunha de 'Besouros'. A mera menção deles incute o medo, pois nunca passam por lugar nenhum sem tomar algo, seja material, seja uma vida.

Círculo do Poder



O exercício de qualquer ofício mágico é proibido no reino, exceto pelos membros do Círculo do Poder, uma ordem criada pela Feiticeira, que instruiu homens nas formas mais sinistras do arcanismo e os usa para vigiar o território em busca de possíveis ameaças. Destacamento de soldados especialmente capacitados são enviados ao menor sinal atividade mágica.

Possuem acesso à uma infinidade de objetos místicos, guardados em cofres nas sua numerosas Torres de Vigília, e uma vasta biblioteca, em Melkar, onde o conhecimento arcano está à disposição do magos e seus aprendizes.

Ordem do Sangue Negro



Tavres adora apenas uma divindade e é a própria Feiticeira Negra. Para guiar seus rebanhos ela conta com os Pastores, dotados do dom da palavra e domínio da retórica. Além destes existe a chamada Ordem do Sangue Negro, um grupo de homens sinistros que empunham aço, morte e magia profana em nome de sua senhora, como fanatismo sem par.

Draconóides



Através de rituais só conhecidos por ela, a Feiticeira Negra é capaz de criar paródias da vida misturando todos os tipo de seres com dragões negros, criando aberrações. O limite destas criações é a própria imaginação da rainha de Tavres.

Estas criaturas são encontradas em todo o reino, se mantém selvagem e distantes de grandes concentrações humanas - como cidades -, mas não é incomum que ataquem caravanas de viagem, o que praticamente impossibilita as viagens de civis. Quando é de sua vontade a Feiticeira comanda estas criatura ou entrega sua obediência à algum general.

Cavaleiros Dragões



Estes guerreiros são escolhidos dentre os melhores soldados alguns para montar jovens dragões negros e serem a vanguarda dos exércitos reais. Envergam pesadas couraças mágicas e têm acesso à um arsenal encantado bem variado, sendo que as armas de haste predominam entre eles. Com suas montarias únicas, eles inspiram seus camaradas ao mesmo tempo que incutem o terror nas filheiras inimigas com baforadas ácidas e eventuais empalamentos.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Rosa Branca do Lago - Personalidades

Algumas breves descrições de NPCs importantes de Rosa Branca do Lago.

Zack (Zacarias)

Um dos comandantes da tropas de Metal Pesado de Rosa Branca do Lago e responsável, junto de Tundio e Tuvalu, pelo treinamento das mesmas. Durante o dia pode ser encontrado nos Campos de Agasu, fazendo exercícios com os soldados e de noite na Casa da Madame Marlene ou em Castelathos, onde tem um quarto.

Karltus



Poderoso e massivo, este guerreiro Sudak atua nas Tropas de Escaramuça, junto de outros enviados do seu povo. Facilmente encontrado pelo seu tamanho e sua arma de assinatura, uma espada montante e já tornou-se figura marcada entre os soldados de Rosa Branca do Lago.

Abelardien Cordassussurante


Experiente Arqueiro Arcano, foi enviado por Alestris e pela Ordem das Cinco Flechas para ensinar arqueiros das Tropas de Escaramuça. Além de contar com os elementos para imbuir seus projéteis, é capaz de disparar 4 flechas num intervalo de 5 batidas de coração. Apesar dos problemas para treinar os arqueiros da cidade - sem noções mágicas -, num trabalho conjunto com Anatole está obtendo alguns avanços, ao contrário do que acreditava a princípio.

Anatole


Desertor do Círculo do Poder, ordem de magos comandados pela Feiticeira Negra, Anatole levou muito tempo até receber a confiança de Rasputin, o rei da cidade, e dos outros Heróis da Canção. Visto com pouca frequencia em público, está geralmente enfurnado na biblioteca de Castelathos pesquisando ou ensinando um grupo de 9 aprendizes, que deverão formar a primeira força mágica da cidade.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Sobre Edric Lieusing e sua fuga de Sinlair

A tradição guerreira sempre foi menos arraigada nesta região, ao contrário do resto da Procelária. Aqui os homens se voltavam menos para a guerra e mais para o comércio, não sendo raro pessoas de fala mansa, capazes vender toda sorte de desnecessariedades. Sinlair era para o Vale das Lanças a porta de entrada de curiosas mercadorias vindas do sul. Dos fabulosos instrumentos de corda de Rhian até o reluzente mármore do Deserto Vermelho, tudo chegava por aqui, exceção feita talvez pela rota comercial dos anões, entre Dol Kuzdul e Duorundur.

Um pouco menos que um rei e um pouco mais que duque, Edric Lieusing era o governante local na época em que a Feiticeira Negra já havia espalhado seu poder por todo o Vale das Lanças, e só restava consolidar as fronteiras. Sinlair estava no caminho. Sabendo o ocorrera com os outros reinos humanos que se oporam às sombras e consciente do fraco poderio bélico do que dispunha, Edric resolveu fugir para a distante Driath, uma poderosa cidade independente além dos limites da Procelária, levando junto seus dois filhos e esposa, e deixando seu povo à mercê da deusa tirana. Durante a viagem ele e seu primogênito, Martin, foram pegos pelos cavaleiros dragões de Tavres, sendo que só Anna e Morien alcançaram seu destino.

Anna casou-se com um fazendeiro local enquanto seu filho crescia num ambiente semelhante ao que nascera, tanto na riqueza quanto nas trapaças, e acabou por se tornar um influente comerciante. Alcançada a meia-idade, aos 43 anos, teve um sonho com seu pai, em que este agonizava, implorando ao vazio por clemência, e ditas palavras que Morien não pôde compreender, suas entranhas se transformavam em algo sombrio, a serviço de um poder profano. Querendo respostas o nobre sem terras decidiu voltar à Sinlair, e partiu dizendo ir tratar de negócios numa terra à oeste do Mar das Lágrimas, com os anões. Contratou um grupo de mercenários para escoltá-lo, e entre estes destacavam-se o ex-oficial da guarda local, Samuel Troy, um arruaceiro com mãos lépidas, Marcus Clover e a misteriosa Adelaide, uma bela elfa que há muita não vivia na terras encantadas de seu povo.

A viagem foi cheia de surpresas e não foram poucos os encontros com besouros e outras bestas que agora corriam livres pelas planícies da Procelária, que levaram pouco a pouco vidas da escolta. Laços de amizade e amor se formaram, aproximando Morien de Adelaide de forma que seu destino seria estarem juntos até o último momento, conforme pudemos presenciar. Samuel também ensinou seu empregador a empunhar armas, e assim um pôde confiar a vida ao outro. Chegando à Kundrur, entreposto anão que fora o destino combinado a princípio, Morien revelou o real destino da viagem e Marcus, que demonstrara desacordo com o empregador muitas vezes durante a viagem exigiu receber seu pagamento ali e partiu, abandonando seus companheiros e levando junto o que restou do grupo. Agora apenas haviam apenas três companheiros, mas já estavam próximos de seu destino.

Na cidade de Lorted,onde pegariam um navio para cruzar o Mar das Lágrimas, um grupo de guardas de Tavres liderado por Leonardo os emboscou no barco, e vendo que a fuga era impossível sem que um dos três morresse, Morien se entregou, pedindo apenas que seus companheiros fossem libertos, pedido que foi atendido pelo General Rubro. A elfa estava grávida e seu amado sabia disso, e pediu que Samuel a levasse de volta para Driath.

Adelaide deu a luz ainda durante a viagem e pediu que Samuel levasse seu filho Andrew à Güiltan, em Alestris, pois ela mergulharia nas sombras atrás de Morien...

Essa é a história do último governante de Sinlair e seu descendente.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Caravana de Heróis

Saindo de Dol Kuzdul me indaguei se não deveria organizar estas memórias de acordo com as datas que as coisas aconteciam, e joguei a pergunta ao resto do grupo. De Tundio veio a resposta (na forma de perguntas) mais satisfatória:

- O que são datas?

- São os dias organizados num calendário, que é uma tabela que usamos para saber em que dia estamos.

- Um dia vem depois do outro nesta tabela?

- Sim, por quê?

- Que sentido há nisso?

Satisfeito com aquilo resolvi que estas narrativas serão organizadas em episódios, que darei nomes conforme eles forem surgindo. 'Caravana de Heróis' é o nome deste, pois assim se portaram meus companheiros ao se depararem com com as adversidades de Jazi, um vilarejo nos limites de Tavres, onde viviam pessoas que eles nunca viram na vida...

Viajávamos de cabeça baixa, pois íamos rumo ao sol poente, quando um rápido e repicado batuque chegou até nós. Erguendo os olhos avistamos um fumaceiro ao longe e apertamos o passo, tomados pela curiosidade. Adentramos a fumaça como crianças que aprendem uma brincadeira nova, quando encontramos três pessoas sendo atacadas por figuras assustadoras, de corpo semelhante ao de humanos, mas com rostos e cabeleira imensos, desproporcionais à parte de baixo. Foi o que nos mostrou que aquilo não era, de forma alguma, uma brincadeira. Levamos os camponeses para dentro de uma casa, que parecia um local seguro, e não vi quando dois daqueles seres tombaram ante às armas de Tyrus e Selena. Fique sabendo disso só depois que a confusão acabou, pois estava assutado demais com aqueles monstros, e minha mente também parecia entorpecida, como se tivesse ingerido aguardente, mas sem a euforia que elas nos proporciona.

Terminados os batuques, dispersada a fumaça e passada a confusão, fomos lá fora ver o que havia ocorrido, já que as três pessoas que ajudamos eram incapazes de articular qualquer som. Lá fora encontramos seis corpos que pareciam humanos, só que secos, como frutas que ficaram ao expostas ao sol por muito tempo. Rasputin, após observá-los com mais cuidado concluiu que não havia sangue lá dentro, que de alguma forma aquelas criaturas extraíram. Os corpos do monstros abatidos por Tyrus e Selena não estavam mais lá, desapareceram jundo da fumaça.

Um senhor de pele escura como Tundio veio até nós e se apresentou, se chamava Blús, e nos deu as boas vindas à Jazi, pedindo desculpas por termos chegado em momento tão ruim. Perguntamos o que fora aquilo e ele se limitou a responder – Isso sempre acontece. Não se envolvam. - e providenciou um lugar para ficarmos que pertencia à família que morrera no ataque. Apesar de incomodados com a habitação que, dada a situação, tinha mais ares de túmulo, ficamos ali, pois noites ao relento após caminhar o dia todo não são de forma alguma agradáveis. Naquela noite tentamos indagar outros habitantes sobre o acontecido, mas não recebemos nada além de um – Isso sempre acontece! -, conformado. Fomos dormir, intrigados com aquilo.

No dia seguinte, pela manhã, enquanto comprávamos frutas, Yuko fez um comentário pertinente – É impressão minha ou este lugar tem menos cores?. Ninguém concordou de pronto, mas todos ficaram pensando naquilo. O sol já estava quase na metade de seu percurso quando uma menina chamada Lia veio até nós e nos fez tantas perguntas que precisamos nos revezar para responder. Ela estava curiosa sobre quem éramos, porque carregávamos facas e machados grandes, porque nos vestíamos tão diferentes dos adultos que ela conhecia... Enfim, queria saber sobre nós. Após respondidas umas quinze ou vinte perguntas dissemos à ela que era nossa vez de perguntar, e ela aceitou. Perguntamos sobre o dia anterior, a freqüência daquilo e porque não de falava daquilo. Ela nos disse que aquilo acontecia a cada mudança de estação, que a única instrução dos adultos era se esconder e não pensar sobre aquilo, porque depois de crescidas as crianças não mais teriam que pensar sobre. O pessoal se reuniu numa roda, enquanto eu mostrei alguns sons do violão para Lia e logo voltaram dizendo – Decidimos que, eles querendo ou não, ajudaremos esta cidade! Achei engraçado o modo que expressaram sua vontade, ao mesmo tempo que admirei a atitude. Combinamos o seguinte: vasculharíamos a região em busca daqueles seres, e nos reuniríamos na casa que nos fora emprestada ao pôr-do-sol. Lia insistiu em nos ajudar, e Selena ficou com ela.

Foi um trabalho estranho, pois não fazíamos a mínima idéia de onde começar, e procurei dentro mesmo da vila, procurando qualquer coisa. Na realidade eu não sabia nem o que estava procurando, mas meu amigos pareciam tão empenhados que achei errado não ajudá-los. Chegado o fim do dia nos reunimos apenas para descobrir que ninguém descobriu nada. A única informação nova foi que Rasputin não acharam rastros em volta da cidade que não fossem de bois ou carroças, meio de locomoção que não são conhecidos pela sua velocidade. Eu disse que fora um daí perdido, mas Tyrus respondeu que não, pois aquele primeiro dia diminuiria o espaço de busca para o dia seguinte, facilitando o trabalho. Admirável o otimismo do gigante.

Na manhã seguinte ouvimos alguém bater à porta. Era Lia. Mal o sol tinha nascido e lá estava a menina, esperando para retomar as buscas do dia anterior. Levamos uma hora para comer, nos lavar e finalmente acordar, antes que pudéssemos começar. Tyrus disse que era mais fácil os monstros saírem de algum lugar dentro da cidade do que a abandonarem sem deixar rastros. Fazia sentido. Então limitamos a vasculhar apenas a área interna da cidade, o que se mostrou mais frutífero, pois pois nem passada uma hora Rasputin achou um alçapão junto à uma casa na cidade.

Eu procurei ali no dia anterior, mas a passagem me escapou ao olhos, talvez porque eu não sabia o que procurava.

Resolvemos então separar o grupo, para caso houvesse um novo ataque, haveria alguém para defender os camponeses. Descemos Tyrus, Yuko, Selena e eu. Dentro do alçapão havia uma escada que descia cerca de 5 casas de altura. O ar era úmido e opressor. As paredes feitas de terra e rochas, sustentadas por armações de madeira, já levemente apodrecidas. Ao chegar ao fundo acendemos quatro tochas, sendo que eu carreguei duas, pois Tyrus preferiu brandir sua alabarda com duas mãos enquanto nós iluminávamos o caminho – Armas de haste têm vantagens quando usada desta forma em túneis – justificou. Mais à frente deparamo-nos com desenhos nas paredes, feitos de uma tinta vermelha com um forte odor de ferro, que o gigante disse ser sangue. Se o era de fato algo o manteve fresco, pois reluzia com as chamas. Nestes desenhos julgamos estar representadas atividades como a caça, a pesca, o plantio, entre outras; o que não trouxe nenhum esclarecimento sob o que estava acontecendo. Passado algum tempo andando chegamos a uma rústica porta de madeira, dupla. Após Yuko checar a presença de armadilhas e de possíveis alguéns mais atrás da porta, Tyrus a arrombou com um poderoso chute, pois ela estava fechada com uma tábua cruzada do outro lado. A passagem levava à uma câmara grande, cheia de cinzas e buracos no teto. Investigamos o que havia para investigar e novamente não chegamos à nenhuma conclusão. Seguimos por uma porta no canto, esta menor e desbloqueada. O túnel continuava por mais algum tempo, até que chegamos à um pequeno córrego e, do outro lado deste, uma escada, que nos levou até um galpão onde encontramos muitas ervas armazenadas em sacos grandes, feitos de alguma planta trançada. Uma resmungada alta de Tyrus, denunciou nossa presença à homens que estavam do lado de fora, e estes não quiseram conversar, se lançaram rapidamente sobre nós brandindo lanças curtas e espadas curvada, que mais pareciam grandes facas. Utilizando corredores com vantagem Tyrus e Selena fizeram com que a maioria tombasse, deixando o restante para Yuko, que se movia num aparecer e desaparecer constante por trás dos sacos. Foram ao todo nove inimigos mortos, e não pareciam em nada diferentes de homens comuns, talvez apenas pelas poucas vestimentas.

Terminado o combate e ocultos os cadáveres fomos ver o que havia lá fora, e encontramos uma vasta plantação. O que quer que fossem aquelas plantas, elas deveriam ser destruídas, pois eram cultivadas por nossos inimigos e deviam ter algum uso importante para eles - Nenhum agricultor deixa nove guardas protegendo sua alfaces! - resmungou Tyrus. Fizemos alguns focos de fogo pela plantação e no galpão, quando senti (e mais tarde fiquei sabendo que a sensação foi compartilhada entre o grupo) um entorpecer dos sentidos e que as cores rapidamente sumiram, deixando no lugar apenas um tom acinzentado. Voltamos correndo pelo túnel, enquanto Selena e Tyrus danificavam as vigas de sustentação do mesmo, e as deixavam quase a ponto de ceder.

Ao sairmos do outro lado ouvimos o som da passagem subterrânea desabando atrás de nós, enquanto o solo se assentava suave e rapidamente. Quando indagados por nossos companheiros dissemos que resolvemos o problema imediato e conversaríamos sobre o assunto vai tarde. Nem todos respeitaram nosso pedido, mas umas palavras rude de um gigante bastaram para que ficássemos em paz. Nenhum de nós sabia explicar mas fomos tomados por um desânimo tremendo, a ponto de não termos vontade sequer de falar. Dormimos antes do sol se por naquele dia, e na manhã seguinte nos sentíamos um pouco melhor e relatei o acontecido. Após muito debate a conclusão que pudemos chegar foi que aquela erva possuía um efeito depressivo, o que mantinha aquela cidade a mercê dos atacantes, que provavelmente eram imunes aos efeitos daquela fumaça e a espalhavam pelo aposento cheio de cinzas e buracos no teto, que ficava no túnel. Isso explicava as vias de entrada da névoa, do nosso inimigo e porque ninguém ali tinha vontade de se defender, mas não explicava os desenhos em possível sangue e o porquê de tudo aquilo. Resolvemos comunicar Blús de tudo e seguir avançando, em busca de mais pistas, mas qual foi a nossa surpresa ao ouvir do senhor que aquela erva era a base do sustento daquela vila.

Foram em vão nossos pedidos de que a planta entorpecente fosse descartada e outra alternativa fosse buscada para a alimentação. Tristes com nosso fracasso em auxiliar aquelas pessoas resolvemos descansar mais um dia e partir na manhã seguinte. De noite Lia veio nos procurar e pdiu para partir conosco e aceitamos sem sequer discutir, pois era nossa obrigação tirá-la daquela cidade condenada pela própria vontade.

Essa foi nossa primeira viagem longa, seguindo o 'mapa' de Selena, e estamos agora num barco cruzando o 'Rio Verde', que divide a região da Procelária de Roris. O mapa parecia indica uma ilha numa grande divisa, e leste foi a direção que Mordanin apontou, frisando que há mais de 300 anos ele não saia de sob a terra, e poderia estar errado ,mas como já disse antes, não tínhamos rumo e viajar era tudo que queríamos.

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

No corredores do Rei sob a Montanha - Parte I




Fugimos de Tikal e seguimos para para noroeste, rumo à terras desabitadas, na esperança que os soldados da Feiticeira Negra não nos perseguissem. Meus novos companheiros eram, até esta tarde, os seguintes: Rasputin Delarose, um homem dos ermos, versado na linguagem dos animais e da natureza, além de um exímio arqueiro; Selena, uma mulher das armas, treinada em antigas técnicas marciais; e Yuko, uma garota de olhos amendoados e pele amarelada, com passos leves como as folhas no outono. Ambas aprenderam o que sabem com o mesmo mestre, um ancião chamado Tokai Kunishige.

As duas garotas estavam de partida naquele dia, Yuko seguindo instruções do seu avô mestre, Selena para evitar que um de seus dois irmão fosse levado como escravo, pena reservada àqueles que não tinham dinheiro para os impostos. Na tentativa de abandonar a cidade antes dos besouros chegarem um acaso trágico levou à morte os dois garotos. Selena fora de despedir de seu mestre, que orientou a neta a se juntar à ela, já que não havia mais nada a aprender naquela cidade, e era hora das duas entenderem o que era tornar uma arte viva. As duas fizeram um sinuoso em confuso caminho entre os casebre de Tikal afim de evitar as ruas principais e possíveis encontros com soldados. O atraso do desvio foi fatal. Chegaram a tempo apenas de presencair a morte dos irmão de Selena, um teve a garganta rasgada por um espada em frente sua casa o outro foi crivado de flechas ao tentar correr. Tomadas por um furor de batalha fizeram os besouros tombarem um a um, com ajuda de flechas vindas do alto, que só pararam para se perguntar depois, e ao fazê-lo viram Rasputin pela primeira vez, que não se identificou, apenas disse “Inimigos dos besouros são meu aliados!”. O suficiente para que momentaneamente se unissem para fugir daquela cidade. Se apossaram da carruagem usada para levar escravos e partiram para a saída da cidade e assim se deu o encontro narrado em páginas anteriores. Só para o caso de restarem dúvidas, a carruagem tombou na fuga, nos deixando apenas os Lagarks.

Estávamos no Cerrado dos Lagartos, terras perigosas para qualquer um que não fosse um predador e nuvens cinzentas começaram a aparecer. Ao vê-las Rasputin colocou em palavras a suspeita que parecia óbvia à todos nós: tínhamos um temporal pela frente. Nos apressamos então, forçando os animais a apertarem o passo, que já não era lento, em direção à uma montanha que se erguia, quase solitária, em meio a humildes colinas, arredondas pelo tempo. A montanha era imensa e razoavelmente próxima à Tikal. Quatro dias em marcha de viagem, sem montarias, mas fizemos o percurso em apenas um dia, forçando ao máximo os pobres Largarks que montávamos. Um deles morreu de exaustão, após cruzarmos o sexto morro. Paramos, achando melhor deixarmos para a montaria que nos restava apenas nossa modesta bagagem (uma lança, uma alabarda, duas tochas, uma pederneira, umas poucas roupas e mantimentos), e seguirmos a pé, com passo lento, já que há algumas horas não avistávamos mais os besouros que nos seguiam. Estávamos distante da estrada que levava até Melkar e de qualquer outra. Provavelmente nossos perseguidores acharam que a fauna local teria mais chances em nos capturar do que eles próprios, que ainda tinham os impostos para cobrar.

Rasputin achou um rastro que levava até a entrada de uma caverna. Ele nos disse que eram de um homem de tamanho mediano e outro enorme, pelo tamanho e as profundidades das pegadas. Também concluiu que não carregavam carga e que pareciam apressados. Resolvemos nos abrigar na entrada da caverna, com cautela pois desconhecíamos as intenções dos dois sujeitos. Qualquer problema, disse eu, os rastros indicavam apenas dois homens, enquanto nós éramos em três. Três armados e capacitados para combate eu, é claro, me excluí desta conta...

Lá dentro Yuko trocou algumas palavras com a escuridão para logo depois acender uma tocha. A chama revelou um gigante dormindo e outro homem, negro como carvão, escondido atrás de uma rocha, e este indagou nossa procedência e intenções, enquanto brandia uma arma que consistia numa bola de ferro presa à um cabo de metal por uma corrente. Depois me disseram que se chamar mangual esse instrumento da morte. Yuko disse que fugíamos dos besouros e isso bastou para que a atmosfera hostil desaparecesse. Fizemos uma fogueira e falamos um pouco sobre nós.

O gigante se chamava Tyrus, não trajava nada além de uma tanga de pele de raposa e uma velha capa de couro bovino. Carregava um machado na cintura e uma faca longa junto a canela direita, ambos em más condições de conservação. Ele deve ter uma espada a mais de altura do que um homem alto, além de músculos que pensei serem capazes de erguer um boi, suposição que se mostrou irônica ainda naquela noite. Nem um pouco habilidoso com palavras e nem no trato social, apesar de tentar ser amigável. O seu companheiro se chama Tundio. Disse vir de um reino a leste de Tavres, que sofria constantes ataques da Feiticeira Negra, sempre em busca de novos escravos. O preto vistoso usava uma calça de um tecido resistente, botas de couro, e nada no tronco exceto uma pele de leão que, apesar do ambiente seco e poeirento, parecia limpa, e dava à ele uma aura de imponência, como a de Rasputin. Ambos fugiram de um campo de escravos e formaram um grupo de resistência, para onde levavam outros ex-escravos que libertaram nos três ataques que realizaram, sendo dois à fazendas e o terceiro a uma mina de carvão. O acampamento dos revoltosos foi encontrado e destruído pelo servos da Feiticeira Rainha, e eles eram os únicos sobreviventes.

Selena resolveu entrar um pouco mais para o fundo da caverna e lá encontrou algumas ossadas, que pareciam de homens, e pediu para que Rasputin desse seu parecer. O andarilho disse que aqueles restos eram antigos e encontrou junto à eles rastros do maior casco bifendido que já vira. Estes levavam para o fundo da caverna. Apesar de todos acharmos pouco seguro uma investigação naquela altura da noite, nossa temosa espadachim resolveu que seguiria as pegadas. Yuko disse que provavelmente a morte dos seus dois irmãos mais novos não deixariam a companheira ter uma boa noite de sono por um bom tempo, e nos tranqüilizou ao seguir em silêncio sua parceira. O resto de nós preferiu descansar para na manhã seguinte prosseguirem na exploração da caverna, todos juntos. Sugeri que se nos revezássemos na guarda.

Mostrei para nosso dois novos amigos a descoberta que fizera em Tikal, e acho que os toquei tão profundamente quanto aos outros três, e pareceu surgir uma nova chama naqueles olhos desesperançados e cansados. É uma pena que neste mundo em que vivemos as pessoas fiquem assim tão logo que dominam seus sentidos. Deixei que eles dormissem, pensando na música e prolonguei por mais duas horas as notas do meu violão, enquanto fazia a guarda. Fui interrompido por um urro que veio das entranhas da terra. Temi por Yuko e Selena, mas sabia que aquele grito não era humano. Meus companheiros se colocaram rapidamente de pé e todos corremos em socorro, para as sombras. Encontramos Yuko algum tempo depois, e ela disse que foram atacadas por um boi-de-pé, e este levara Selena. Temendo o pior, resolvemos seguí-lo o mais rápido possível, antes que ele comesse nossa companheira. Rasputin prontamente se colocou nos rastros da criatura do ponto de onde Yuko disse ser o local do encontro, e à frente, com ele, foi Tyrus que parecia farejar a criatura.

Passamos por um grande salão, onde ouvimos som de águas abaixo de nós e uma agradável brisa nos recebeu. Nossa tochas eram insuficiente para iluminar mais do que três passos, então não pude contemplar o que era de fato o lugar onde estávamos, mas sei que era grande, pela forma que nossa vozes se espalhavam na escuridão. Cruzamos duas pontes de pedra e avistamos um grande desenho na parede, que emitia uma suave luz azulada, e parecia ter algo escrito. Nenhum de nós era capaz de ler aquilo, mas essa a menor das preocupações naquele momento. Ao lado vimos uma grosseira cabana de palha e madeira, de onde vinham sons baixos e guturais, e supomos ser alí a morada do monstro. Estávamos certos.

Este, ao notar nossa presença, se lançou contra nós numa furiosa investida, com seus grandes chifres apontados e foi parado pelos fortes braços do Tyrus que, após Rasputin cravar sua espada o mais fundo que pôde, lançou a criatura selvagem sobre um velho muro, que estava uns 8 passos de distância. De lá ela não se levantou.

Na cabana. Alias, creio que 'ninho' seja uma palavra mais adequada. No ninho encontramos Selena junto de outros três bezerros, que ainda não ficavam em pé. Cuidamos de nossa parceira enquanto Tyrus matava os filhotes, para comê-los, ele disse. Armamos nosso novo acampamento e e assamos um dos novilhos. Enquanto isso resolvi investigar aquela porta e, incapaz de abrí-la, sentei e comecei a tirar alguns sons de meu instrumento. Eram notas dessas que pegamos no ar, que só podem ser tocadas se formos com elas, e que escapam aos dedos se tentarmos retê-las. Após a refeição todos dormiram, menos eu que, apesar do sono, fiquei junto do meu violão, e ficaria ali até uma música de lá saísse. E saiu. Não bastando se agradável aos ouvidos ela ainda abriu a porta, de onde saiu um sujeito atarracado e maltrapilho, com a barba mais longa que já vi, e gritou numa notável exclamação: Estou livre! Incapaz de dizer outra coisa ele o repetiu muitas vezes, enquanto nos abraçava de forma que nos pareceu inofensiva. Se não o fosse estaríamos encrencados, mas após as desventuras daquele dia ninguém mais tinha ânimo para atitudes violentas. Não naquela noite.

O convidamos para que sentasse junto à nós, se acalmasse e contasse sua história. O sujeito disse estar naquele cômodo (que era grande e comprido, em formato de 'T') preso já há três séculos. - Nós anões vivemos muito mais do que qualquer humano. Não é estranho um de nós ver trezentos ou quatrocentos invernos. - disse ele. Seu nome era Mordanin, e, como nosso cansaço já era demasiado e nem uma história seria suficiente para nos manter acordados, pedimos que ele terminasse sua história no dia seguinte.

Creio que dormimos a metade de um dia, mas era um sono merecido. Ninguém fez guarda, imprudência que não deve se repetir. Mordanin nos mostrou onde poderíamos beber água e expelir os restos da refeição do dia anterior, dentro do já citado corredor em 'T'. Uma fonte à direita e um buraco no outro canto, feito sob um pavimento de paralelepípedos, que fora removido e, e com as pedras restantes, foi feito um assento. Feita a refeição carnívora da manhã voltamos à indagar o pequeno sobre sua história, que vou relatar aqui.

Dol Kuzdul era o nome deste reino, e significa 'Reino sob a Montanha'. Alí existiram imensos salões - Anões precisam de espaço! disse nosso novo amigo -, com riquezas mil e conforto inigualável. Com a chegada da Feiticeira Negra, nos tempos em que a memória é incapaz de lembrar, uma sombra se lançou sobre toda a região da Procelária, mas não sobre Dol Kuzdul, que estava protegido por cordilheiras e outros caminhos sinuosos que só seus habitantes conheciam. Demorou muito tempo para que uma guerra fosse declarada pela Senhora de Tavres, que só o fez após consolidar seu poder na superfície, e quando isso aconteceu terríveis hordas e poderes sombrios se lançaram sobre os anões.

- Somos duros como rocha! - disse Mordanin - Sobrevivemos à ferimentos que matariam qualquer homem. E como as montanhas é a nossa teimosia: imovível!

Por séculos a guerra se estendeu e a outrora chamada Cordilheira do Ferro, onde haviam imponentes montanhas escarpadas, hoje não passa de uma colina, sem sequer um penhasco digno de nota. Àquela guerra só sobreviveu uma montanha, abençoada por 'Dûm Nietor', o senhor da terra. Mordanin chamou esse senhor de 'Deus', e ao ser indagado sobre o que aquilo significava foi interrompido por Tundio, que explicou serem senhores imortais de poder inigualável, que concedem bençãos ao mortais, e punições quando necesserário. Como reis, só que inalcançáveis nas alturas em que se encontram. Ele era o servo de um, Agasu, o leão da guerra. Perguntei se a Feiticeira Negra era uma 'deusa', e Tundio pareceu ofendido com a pergunta, que não respondeu.

Dia após dia os barbudos obtinham vitória contra as hostes estrangeiras. Demonstraram à Rainha Negra as dificuldades de entrar na moradas dos anões sem convite. No entanto sua queda veio de dentro. Duras eram as armas e armaduras do anões, mas assim também eram seus olhos e ouvidos. Sem que ninguém notasse, poderes sombrios penetraram pelas maciças paredes do reino, e os portões foram abertos. Pegos de surpresa por Cibele, a dragonesa de sete cabeças, e outros horrores, não houve tempo para organizar as defesas e uma medida desesperada foi tudo que restou à Tarn Mão-de-Martelo, o Rei sob a Montanha. Ele, junto de sua guarda, enfrentou o vorme e seus lacaios, enquanto o que sobrara de seu povo fugia por uma saída secreta, atrás da sala do trono. Mordanin, que era membro dessa guarda, participou da batalha até que seu senhor tombasse, já quase sem carne nos ossos. Seu último pedido foi seu último guarda sobrevivesse, contasse a história do que aconteceu ali, para que um dia o orgulho de seu povo ressurgisse, e seu reino fosse retomado.

Assim foi. A salvação do anão foi que Cibele era grande demais para seguí-lo têrredor de fuga, e ela engordou ainda mais, devorando seu exército, depois que este reuniu os tesouros de Dol Kuzdul sob sua barriga. Três séculos ele passou se alimentando de cogumelos e bebendo de uma fonte.

- Água ajuda a arejar o ambiente, por isso as colocamos em todo lugar que sobra espaço. - justificou o velho anão.

Ele não pôde sair dali porque a porta secreta só podia ser aberta por uma certa canção. Canção esta que misteriosamente encontrei em meio as rochas e as cordas do violão. Por libertá-lo e ouvir sua história ele nos deu acesso à um armorial de emergência, que ficava também naquele têrredor, onde meus companheiros renovaram seu arsenal. Selena, sempre ousada, usou uma alabarda para puxar algo do tesouro, enquanto nos armávamos e Cibele dormia. Era um desenho que chamou de 'pintura'. Nesta obra ela, após muito contemplá-la, encontrou o que disse ser um 'mapa', escondido em meio à tinta.

-Meu pai – ela disse – Certa vez me falou que mapas sempre levavam à algum lugar!

Como não tínhamos para onde ir resolvemos seguir o tal 'mapa'. Convidamos o velho anão, mas Mordanin disse que ali permaneceria, e pediu para que contássemos a história do acontecido à todos do seu povo que encontrássemos, enquanto ele estaria arrumando o lugar para quando chegasse mais gente. A parte de trás do palácio, por onde entramos, era um posto de vigília, e ele tornaria o lugar novamente o que fora antes.

Sobre a música, já tenho toda a melodia, que Mordanin disse ser de uma canção antiga anã, que nem ele mais se lembrava. Ele também disse que não tinha letra, então comecei a escrevê-la. Até agora só consegui três versos, são eles:

Hall Of The Mountain King

Mysteries of ages told, stories now will unfold
Tales of mystic days of old are hidden in these walls

Partimos então atrás de novas aventuras...

Um Mundo sem Heróis

Assim é o mundo que conheço, um lugar sem cores, sem alegria, sem histórias e sem esperanças. Nasci na cidade de Melkar, filho de Dathos e Tanna. Minha mãe era uma mulher de força e brilho incomuns, que foram embora ao me parir, junto de sua vida. Meu pai certa vez me disse que tudo isso passou a morar em mim, que minha mãe não morreu, mas passou o fogo de sua vida para mim, para que desta forma eu brilhasse como um farol num mundo de sombras. Nesta criança o viúvo passou a depositar todas suas esperanças.

Dathos era um escrivão a serviço de Tavres, e me ensinou a ler e escrever quando eu tinha seis anos, para que pudesse ajudá-lo. Nossa vida parecia mais fácil que a dos nosso vizinhos. Em termos materiais eu digo, pois nunca faltava comida, água ou remédios, afinal meu pai era um funcionário da coroa. Ele me dizia que as coisas nem sempre foram deste jeito, mas também nunca me disse como seria o outro; disse que fora um poeta, que tinha histórias para me contar e uma arte para me ensinar, todas coisas cujo significado eu podia apenas vislumbrar um borrão. O que ele me ensinou, além das letras, foi o que era um violão e meia dúzia de acordes - os outros eu tive que descobrir sozinho. O tempo passou até que ele levasse todos os seus legados para o túmulo, sem compartilhar nenhum deles comigo, exceto sua calça azul e seu antigo instrumento.

Poucos dias depois chegou em casa uma carta endereçada ao meu pai, envida por Fernand Dumèr. Era um convite para que ambos saíssem sair pelo mundo, levando a música e desenterrando velhas histórias do mundo, e contá-las para as pessoas. O remetente era um artesão de Tikal, e dizia que, como já já estava no crepúsculo de sua vida, gostaria de gastar seus últimos anos viajando e levando seu tesouro para as pessoas, e não perecer fabricando selas, arreios e cabrestos para os lagartos dos besouros. Me pareceu um sonho de um ancião que começa a delirar ao avistar a morte no horizonte, e me perguntei: Então isso que é um sonho? Pois então irei sonhar junto com ele! O velho escrivão já não podia podia atender o chamado, mas eu o faria, pois aquela cidade já não era mais para mim, e muito menos o cargo herdado de meu pai...

Parti em viagem logo atrás de uma caravana de besouros, para evitar os imprevistos dos Cerrados dos Lagartos[ESCOLHER OUTRO NOME] e, ao chegar em Tikal, comecei a notar novas cores, que surgiam na medida que eu caminhava. Pensei que era aquilo que queria dizer a palavra delírio, e resolvi me entregar, tomando aquilo por um sinal de que algo iria acontecer, de que o mundo estava para mudar...

Ainda entregue ao meu devaneio avistei uma figura estranha, no canto da estrada. Um homem diferente das tantas pessoas que eu já vira antes. Ele acampava próximo à estrada que chegava pelo norte da cidadela mineradora, e nele notei um vigor no olhar e uma nobreza no seu porte, coisas novas para mim. Sua fronte encarava a caravana dos besouros e nenhum destes ousou retribuir o olhar. Resolvi me aproximar e indagar quem era o tão peculiar sujeito. Seu nome era Rasputin Delarose, e disse ser um andarilho da região. Nos separamos logo depois, já que ambos tínhamos afazeres na cidade. Chegando na casa de Fernand me escondi, ao ver que ela estava cercada por seis besouros, juntos de um cadáver, que jazia decapitado em frente a porta de entrada, de onde um rio de sangue surgia. Era um vermelho que eu nunca havia visto antes. Um homem louro, trajando uma couraça vermelha, jogou dentro da habitação uma folha de papel, e pediu para que seus subordinados ateassem fogo. Como que atendendo um chamado de socorro, entrei velozmente pela janela, peguei o papel antes que as chamas sequer o amarelassem e ouvi uma confusão lá fora. Ao fitar as letras fui tomado por um desejo de tocar meu instrumento, algo que nunca fizera com sucesso, e assim foi. Entoei a canção de Fernand, que era mais ou menos assim:

A WORLD WITHOUT HEROES

A world without heroes
Is like a world without sun
You can't look up to anyone
Without heroes
And a world without heroes
Is like a never ending race
Is like a time without a place
A pointless thing devoid of grace

Well you don't know what you're after
Or if something's after you
And you don't know why you don't know
In a world without heroes

In a world without dreams
Things are no more than they seem
And a world without heroes
Is like a bird without wings
Or a bell that never rings
such a sad and useless thing

Well you don't know what you're after
Or if something's after you
Well you don't know why you don't know

And a world without heroes
Is nothing to be
It's no place for me.

O que aconteceu naquela hora eu não sei explicar, mas a cidade inteira parou para ouvir, inclusive os besouros e seu líder, que estava pronto para enfrentar outras três figuras, dentre elas o andarilho Delarose. Disse à eles que montassem os lagartos e que fugissem logo, mas que eu levaria àquela canção até o fim, e os encontraria na entrada da cidade, no local do primeiro encontro com Rasputin. E assim começou nossa viagem...